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Violência: “Agressor deve ser visto como solução e não como problema” |
Para psicóloga, mudança só virá com a conscientização masculina sobre o assunto |
Medo, subserviência, humilhação, angústia, arrependimento, anulação, dor profunda. Sentimentos e situações que não podem ser modificados sem que haja uma transformação de consciência. Para a psicóloga, mestre em educação pela Unesp de Bauru e doutoranda em psicologia e sociedade pela Unesp de Assis, Érika Cecília Soares Oliveira, a realidade da violência contra as mulheres só vai começar a mudar quando os homens forem conscientizados sobre a gravidade da situação. “Não adianta conscientizar somente as mulheres de que elas não devem se submeter a isso e que devem denunciar os abusos. O autor de violência tem que ser conscientizado para que mude seu comportamento. Os homens são sempre vistos como o problema (pelo fato de serem os agressores), mas eles podem ser a solução a partir do momento em que conseguirem enxergar os erros e mudar. É preciso discutir amplamente as várias formas de ser homem e de masculinidade, porque o papel do homem é construído de forma equivocada desde que ele é criança. A lei ajuda, mas não é suficiente para mudar a realidade”, observa. Ela se refere à Lei n.º 11.340, de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que visa coibir e criar mecanismos de julgamento e punição para os agressores de mulheres no âmbito doméstico. “Não é todo mundo que concorda com a punição, mas a Lei Maria da Penha tirou essa discussão do segundo plano e a elevou para a condição de prioritária. A questão da violência contra a mulher tem que ser falada, discutida entre homens e mulheres, entre amigos e entre família, porque só assim será possível criar gerações conscientes”, avalia a psicóloga. A lei, segundo destaca Érika, não impede que a mulher continue sentindo medo e permaneça na frágil condição de submissa ao companheiro. “Muitas vezes, a mulher quer se livrar da situação de violência, e não do marido. A simples aplicação da lei não tem o poder de resolver tudo isso. O que acontece com esse homem (agressor) é que ele legitima o ato violento por não se envergonhar disso. Eles são criados com ensinamentos de que menino não chora, não pode demonstrar fraqueza nem ser sentimental e de que para provar sua masculinidade deve ser autoritário.” Valores A professora Lilian Henrique de Azevedo, doutoranda em história na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Assis e docente da Universidade Paulista (Unip) em Bauru, concorda com Érika quando observa que a situação de violência doméstica só poderá ser modificada quando homens e mulheres discutirem isso juntos. “Muitos homens nem percebem que estão adotando algumas posturas agressivas porque foram educados com a teoria de que o problema sempre é criado pela mulher, então, eles é que devem sanar esses problemas de forma autoritária (o que, muitas vezes, leva à agressão)”, diz. Para Lilian, é preciso haver uma ruptura de valores. “É uma situação muito complicada. Para se ter uma idéia, o crime passional é visto de forma diferenciada dos demais por muitos juristas. Nesse caso, eles avaliam que a violência foi desencadeada por um único motivo que acabou ali (na agressão e morte da parceira ou parceiro). Portanto, avaliam que o autor desse ato não é um criminoso, não cometerá outros tipos de crime”, observa. Lilian coordena um projeto que está sendo desenvolvido por um grupo de alunos do curso de direito da Unip, denominado “Bauru Cidadã: a Lei Maria da Penha e sua aplicação em Bauru”, cujo principal objetivo é analisar os efeitos da legislação. Segundo ela, os estudantes vão traçar estatísticas referentes aos registros feitos na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e acompanhar alguns casos denunciados para saber se a lei está sendo devidamente aplicada e se as pessoas têm conhecimento deste mecanismo de defesa. “Pretendemos também elaborar uma cartilha para ser distribuída em escolas e outros locais explicando sobre a Lei Maria da Penha. Esse material não será só informativo, mas terá principalmente um cunho ideológico no sentido de incentivar essas mulheres a tomar as rédeas de suas vidas”, ressalta Lilian. Fonte: Jornal da Cidade / Bauru |
Patrícia Zamboni
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